O Brasil caminha muito lentamente na introdução da chamada indústria 4.0, aquela que é marcada pela alta informatização do processo produtivo, com as chamadas “fábricas inteligentes”. É o que indica estudo da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), em sondagem feita com 417 empresas e obtida pelo Valor.
O levantamento mostra que desde 2017, base de comparação, houve redução no número de empresas implantando ações para indústria 4.0, de 30% para 23% do total pesquisado, a despeito de ter havido um maior grau de conhecimento sobre o tema neste ano.
O investimento nesse modelo de produção ficou estável em 1,3% do faturamento das empresas, mas a expectativa dos empresários é que haja um crescimento para 1,7% no ano que vem. Houve queda significativa também no volume de empresários que consideram estar fazendo “progresso substancial” nessa área, passando de 35% para 22%, e só 3% do total sente-se muito preparado para ela.
“A velocidade com que a indústria 4.0 tem sido introduzida no mundo é muito grande. Aqui no Brasil, a velocidade está muito aquém do que deveria ser, aumentando o gap [distância] em relação aos demais países em desenvolvimento e desenvolvidos”, afirmou ao Valor o vice-presidente da Fiesp, José Ricardo Roriz Coelho.
Ele destaca que isso é um problema ainda maior quando se considera que o Brasil está em processo de abertura comercial com a Europa e quer aumentar o intercâmbio de produtos com a China, que tem investido fortemente nisso.
“Como vai ficar nossa situação de competição no mundo 4.0? Não faz sentido continuarmos a ser exportadores de produtos básicos e importador de produto de alta tecnologia”, afirmou.
De acordo com a sondagem, a indústria 4.0 tem ocupado “baixa prioridade” (49%) na estratégia das empresas, índice puxado principalmente pelas de menor porte. Entre as grandes, a prioridade é média e alta para 90%.
Entre os desafios apontados para a implantação desse modelo tecnológico, estão falta de recursos próprios, pouca clareza sobre relação custo-benefício, funcionários não capacitados, além de, pelo lado externo, problemas como custos elevados de implantação, pouco otimismo com o futuro e financiamento a taxas pouco atrativas.
De acordo com o levantamento, a maioria das empresas consultadas está na era da indústria 3.0. “Isso é um resultado, em certa medida, satisfatório e mostra a necessidade de adequar as políticas de fomento. 23% podem ser consideradas otimizadas e estão em busca de melhoria nos processos que poderiam ser atendidos pelo lean [sistema de manufatura enxuta]. 18% são empresas digitalizadas, que demandam tecnologias mais sofisticadas, e apenas 4% já atingiram o patamar mais elevado da Indústria 4.0”, diz o documento.
Roriz Coelho avalia que, além de as próprias indústrias entenderem a importância de se avançar tecnologicamente, o governo precisa incentivar essa modernização. Ele afirma que países da União Europeia – mas também Estados Unidos e os asiáticos, como China e Coreia do Sul – têm incentivos governamentais para isso de bilhões de euros e dólares.
Para ele, o Brasil precisa também de mecanismos como depreciação mais acelerada desse tipo de investimento, que hoje está em dez anos, enquanto nos países avançados é de um a dois anos.
Publicação: 27/11/2019
Fonte: Valor Econômico
Imagem: Gazeta do Povo